terça-feira, 16 de julho de 2013

11 - Do que ganha

Geni não é puta rampeira. Mas também não é puta de luxo. Devido ao corpo invejável conseguiu um bom cafetão logo no começo. Fez alguns trabalhos como ficha rosa também, mas a boa quantia de dinheiro que o serviço lhe rendeu ela gastou em pó. Com o tempo o corpo e principalmente a expressão facial mudaram – e o cachê também. Mas Geni ainda tem (bons) clientes fixos, o que lhe dá a segurança de sempre ter dinheiro pra pagar os produtos que compra por catálogo de sua vizinha. 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

10 - Das promessas esquecidas

Uma ou duas carreiras e lá está ela, pronta pro trabalho. A saia mais colada combina com o salto mais alto. Mesmo depois de cinco anos de profissão, seu corpo ainda chama atenção – o que significa dinheiro. No começo prometeu a si mesma que só faria o serviço se fosse com a cara do cliente. Um tempo e algumas contas depois a promessa ficou esquecida. 

terça-feira, 9 de julho de 2013

9 - Do tal verdadeiro prazer

Não se contendo a dar a tantos, durante o sono ainda geme um certo nome e clama: “Esse corpo é teu meu bem, mesmo sendo vendido a outros, é sempre teu. Você não precisa pedir permissão, quando você chega ele já treme, te reconhece, te pede. Eu te preciso, nem que seja em frações, nem que seja em uma dose “. Acorda suada e percebe que ainda tem muitos indesejáveis pela frente até que seu dia termine. Mas hoje ela trabalha com um sorriso, pois sonhou com ele. 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

8 - Dos desejos interrompidos

Foi pagar uma conta no banco – sim, putas também pagam contas, vão à lotérica, ao supermercado... – na fila avistou uma mulher com uma barriga enorme, uns seis ou sete meses, deduziu ela. Geni lembrou-se das três vezes em que deveria ter passado por aquele processo, mas o interrompeu bem antes que a barriga chegasse a aparecer. Cytotec pra que te quero. Mas Geni tem sentimentos, bem de vez em quando, mas tem. Ela se protegia sim, seguia as normas do Ministério da Saúde e só dava se fosse com camisinha. Mas em todos esses anos falhas aconteceram. “No que eu vou dizer que trabalho se me perguntarem na hora da matrícula?”, “E se a mãe de algum coleguinha quiser me conhecer, ou pior, e se o pai quiser me conhecer? E se já tiver sido meu cliente?” Eram tantas as indagações que a escolha pelo remédio era certa. Mas Geni seguia sonhando em poder desenvolver até o fim dos nove meses a própria cria de seu ventre. 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

7 - Dos pequenos incidentes

Já começou lhe rasgando a roupa. “Isso vai te custar a mais seu pau no cu”, pensou. Suas mãos eram pequenas e faziam um enorme esforço pra segurar os enormes seios dela. Tão pequeno quanto a mão era seu órgão. Geni foi muito profissional e segurou o riso. Abriu as pernas. E lá foram os gemidos e gritinhos que ela já conseguia reproduzir com tal perfeição que se passasse a usar um gravador para poupar a voz ninguém desconfiaria. Trabalho feito, dinheiro na mão – inclusive o da roupa rasgada – lá foi ele embora. E lá foi ela ligar para melhor amiga para lhe contar sobre o pequeno incidente. “Menina, não é mesmo que a diversão está nas pequenas coisas?”.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

6 - Modo de fazer

No começo fumava um baseado para conseguir encarar tantos corpos que não eram de seu desejo. Só parou no dia em que dormiu em serviço, o que lhe rendeu a violação daquilo que não vendia de maneira alguma. Quando voltou a consciência já estava sozinha no quarto barato em que costumava trabalhar. O sangue escorria por dentre suas pernas. Desse dia em diante passou somente a cheirar.

Quando precisava fazer duplo turno – geralmente quando recebia algum aviso de despejo do quarto que alugava em uma pensão central – tomava uma bala. A droga a mantinha disposta o suficiente pra atender até dez clientes no período de 24 horas. Geni nunca reclamou.

terça-feira, 2 de julho de 2013

5 - De quando fez de graça

Finalmente aconteceu, oh lord finalmente. Já estava cansada daqueles pés rapados que culpavam a esposa por não sentirem mais tesão, mas a trancafiavam em meio a múltiplas tarefas domésticas sem deixar nem uma graninha pra manicure. No fim era sempre aquele mimimi “ah quando nos casamos ela estava sempre arrumada, agora engordou 10 quilos e só usa pijama”. Porcos, estes são os piores, os mais fétidos, os mais grotescos. Mas hoje não, hoje foi o dia de sorte. O carro importado parou e fez sinal. Quando entrou nem acreditou. Que homem, senhor, que homem. “Podem me apedrejar que pra ele eu dou até apedrejada”. Quando ele entrou no hotel caro jurou que era algum tipo de brincadeira. Mas quando ele a despiu vorazmente viu que era real, carnal. Deu de quatro, de lado, e, se duvidar até de ponta cabeça, enfim, fez tudo, tudo mesmo. E essa é a história do dia em que ela não cobrou pelo serviço. Por quê? Porque foi a única vez desde que entrou nessa vida que conseguiu gozar.  

segunda-feira, 1 de julho de 2013

4 - O primeiro cliente

Mesmo passado cinco anos ela ainda não esquecia o primeiro dia de trabalho na profissão atual. O cliente tinha aproximadamente 40 anos e, como foi orientada pelas colegas de profissão, fez com que ele pagasse adiantado pelo serviço que queria.
Ela tremia. Lembrou-se dos tempos de escola e de como acabou em uma vida bem diferente da que sonhara.

Ele a encarou com aquele olhar de superioridade que ela nunca esqueceria. Abriu os cintos e aguardou. Ela, então, tremendo e com ânsia, abriu seu zíper. Parafraseando o poeta, só tinha um único desejo: “Que seja doce!”.

3- Do não anonimato

Em algumas esquinas eventualmente encontrava algum amigo da época de ensino médio. Eles agora eram universitários. Ciências sociais, cinema, artes cênicas, história, jornalismo... “E você, o que anda fazendo da vida?” A pergunta correta seria “O que eu ando fazendo COM a minha vida?”, pensava enquanto alegava que trabalhava como recepcionista em uma empresa qualquer.
Um dia, ao dirigir-se até o vidro de um carro na prospecção de um novo cliente, deparou-se com um desses antigos amigos. Congelou. Ele, claramente embriagado, não demonstrou surpresa alguma ao vê-la ali. Ao contrário. Ao constatar que se tratava de uma amiga sentiu-se no direito de fazer com ela tudo o que sempre quisera. Tudo mesmo. E fez.